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Artilheiro do Brasil no futebol topa desafio de tiro com arco na FCETARCO

 

O atacante do Fortaleza Esporte Clube Robert, o maior artilheiro do Brasil na temporada 2014 até o momento, com 24 gols, topou a brincadeira proposta pelo Globo Esporte e foi testar a mira no tiro com arco. A reportagem do telejornal (assista acima) destacou também outros dois atletas que atuam em clubes cearenses e são recordistas de gol no país.

Robert recebeu instruções da Federação Cearense de Tiro com Arco, que colaborou com a reportagem do Globo Esporte, e ele mandou bem. Atirando a oito metros do alvo, ele fez uma sequência de três tiros nos anéis amarelos (de 9 e 10 pontos), após três rodadas de tiro.

“É um esporte muito divertido e bem desafiador. Ainda tive uma dificuldade por causa do vento forte, mas depois de pegar o jeito e regular a mira, consegui fazer bons tiros”, disse o jogador Robert.

Nesse sábado, o Fortaleza enfrenta o Botafogo da Paraíba pela Série C do Campeonato Brasileiro. “Se eu fizer gol, vou comemorar como o Robin Hood”, disse, fazendo o gesto de um tiro com arco.

Aplicativos para arqueiros

aplicativos-700O tiro com arco não poderia ficar de fora da tecnologia de internet móvel e boom dos smartphones. Em uma consulta rápida na Apple Store e Play Store podemos encontrar dezenas ou centenas de aplicativos que podem ajudar no treino de atletas do tiro com arco. Nós testamos vários deles e avaliamos a seguir as nossas recomendações.

Esses programas podem servir como uma agenda do arqueiro, onde ficam registradas sua pontuação e evolução; como um “técnico de bolso”, como propõe o aplicativo desenvolvido pelo técnico da seleção dos Estados Unidos, Kisik Lee; calcular velocidade da flecha ou FOC; ou ainda ajudar a identificar falhas do atleta a serem corrigidas.

Para fazer o download, digite o nome do programa no campo de busca da loja de aplicativos do seu celular ou dispositivo móvel.

Caso encontre algum termo que você desconheça, acessa a nossa WikiArchery para consultar a definição. Se você tem alguma sugestão de aplicativo para acrescentar à nossa lista, deixe a dica nos comentários.

wa-200World Archery
Aplicativo oficial da WA, maior instituição organizadora do esporte no mundo. O programa traz notícias atualizadas constantemente sobre o tiro com arco, possui uma extensa galeria de fotos e a biografia resumida de mais de 10 mil atletas de dezenas de países. O aplicativo World Archery também permite acompanhar a pontuação em tempo real das maiores competições e tem um link direto para a Archery TV, que exibe competições ao vivo via YouTube.

archery score-200Archery Score
Um bloco de notas ideal para os arqueiros registrarem a sua pontuação em que a parte do alvo os tiros acertam. O registro da pontuação nas sessões de treino é ideal para que o atleta perceba a sua evolução. O Archery Score permite a comparação de pontos entre cada rodada de tiro. O aplicativo também facilita a visualização das áreas do alvo mais atingidas depois de uma série de tiros, o que pode ajudar na correção da mira. O programa está disponível nas versões beta (gratuita) e completa (ao custo de R$ 9,91).

archery time-200Chronotier
Cronômetro regressivo com os tempos personalizados do tiro com arco. O arqueiro pode escolher em que modalidade de competição quer simular o tempo, e o Chronotier ajusta a contagem. Outra função desse aplicativo é de silvos sinalizadores no padrão Fita: o programa dá dois silvos para indicar ida à linha de tiro; um silvo autorizando o início dos disparos; e três para o fim do tempo da rodada de tiros. Aplicativo indispensável para quem se prepara para campeonatos e torneios.

ubersense2-200Ubersense
Um dos melhores aplicativos de vídeo para esportistas. Este aplicativo permite uma análise minuciosa do desempenho do arqueiro a partir de filmagens. Os vídeos podem ser vistos em câmera lenta por meio do Ubersense sem perda de qualidade. A grande vantagem é a possibilidade de perceber pequenas falhas no disparo, imperceptíveis a olho nu. Com a câmera lenta é mais fácil perceber se o arco “reage” bem ao tiro ou se o atleta realiza um follow through adequado por exemplo. Esse aplicativo também faz sobreposição de vídeos, ideal para checar se a repetição dos movimentos é sempre idêntica.

ksl-200KSL Pocket Coach
Aplicativo desenvolvido pelo treinador da seleção dos Estados Unidos de tiro com arco, o coreano Kisik Lee. O “treinador de bolso” de Kisik Lee alerta para correções na postura, método de puxada, uso da mão de arco, largada suave entre outros aspectos relevantes para um tiro preciso. O aplicativo explica de forma didática 12 etapas do tiro, método desenvolvido pelo técnico, com diagramas e fotos. Kisike Lee é um dos mais renomados treinadores de tiro com arco no mundo inteiro; seus atletas ganharam, juntos, 18 medalhas de ouro nas Olimpíadas. Apesar da carreira de sucesso, o app tem uma avaliação mediana dos usuários: 2,4 de um total de 5 pontos. O aplicativo é pago e custa R$ 6,16.

chrono-200Chrono Connect Mobile
Permite calcular a velocidade de voo da flecha do som do disparo e do impacto do projétil no alvo. O programa é disponível nas versões “lite” (gratuito) e Pro (ao custo de R$ 9,32). Para configurar o aplicativo para calcular a velocidade, acesse a opção “Target Options”, dentro do menu “Settings”, e siga os seguintes passos: 1) em “units” selecione a unidade de medida “metros”; 2) em “Muzzle to target (A)” coloque a distância da ponta da flecha até o alvo; em “Device to Muzzle (B)”, preencha com a distância da ponta da flecha até o seu celular, tablet ou aparelho que faz a medição; em “Device to Pellet (C)” digite a diferença da altura do celular em relação à altura da ponta da flecha. Como esse aplicativo funciona com base no som, é importante que ele seja utilizado em uma área silenciosa.

archery-tool-200Archery Tool
Permite fazer cálculos de forma rápida e simples para identificar o FOC (front of center) e a energia cinética da flecha. Um diagrama prático indica correções que devem ser feitas no rest ou no nock point a partir do teste do papel. O Archery Tool também possui um glossário ilustrado com a definição de alguns termos do arco e flecha. O glossário, no entanto, possui um número reduzido de termos disponíveis para a consulta, e algumas definições são insuficientes ou mal explicadas.

*Agradecimento ao atleta Bernardo Oliveira e ao canal No Alvo por cederem a imagem da capa deste post.

Arco e flecha no cinema

katniss1-7002012 foi um dos melhores anos para o desenvolvimento do tiro com arco ao redor do mundo, com aumento nas vendas e no número de atletas em vários países. Nos Estados Unidos o número de arqueiros filiados teve um aumento de 105%; de 4.185 atletas filiados em novembro de 2011 para 8.589 12 meses depois. O aumento também ocorreu em vários países, inclusive no Brasil, embora não haja dados precisos sobre a quantidade.

Arqueiros de Hollywood e a quantidade de tiro por filme

Arqueiros de Hollywood e a quantidade de tiro por filme

2012 também foi o ano das Olimpíadas de Londres, que medalharam o trio feminino de coreanas, os italianos na categoria recurvo em equipe, e os coreanos também nas modalidades individuais, colocando o esporte em evidência mundial. Não foram os Jogos Olímpicos, no entanto, os responsáveis pelo boom no arco e flecha em 2012, mas uma jovem determinada e apaixonada: Katniss Everdeen, a protagonista da série Jogos Vorazes.

A Archery Trade Association (Associação de Negociadores de Arqueria, da sigla em inglês ATA) comemorou o sucesso da série de cinema e a influência sobre novos adeptos do tiro com arco. Em entrevista ao portal da ATA, Wayne Piersol, dono da Archery Only, nos Estados Unidos, afirma quem em março de 2012, mês de lançamento de Jogos Vorazes, milhares de jovens entre 13 e 21 anos de idade buscaram a prática de tiro com arco.

“Esse fluxo de clientes elevou nossas vendas de arco para iniciantes em 30%. Com o lançamento de ‘Jogos Vorazes – Em Chamas’ estivemos mais bem preparados e tivemos 35% mais equipamentos em estoque. Hollywood criou a ‘tempestade perfeita’ para o arco e flecha, e as lojas de artigos esportivos estão colhendo os benefícios”, diz Piersol, ao site.

Além de Jogos Vorazes, 2012 foi o ano de estreia de Os Vingadores, Valente e O Hobbit – Uma Jornada Inesperada, todos com arqueiros ou arqueiras no elenco principal. De quebra, o arco ainda contou com exposição nas séries televisivas Arrow (exibido no Brasil no Warner Channel) e Game of Thrones (HBO). (Confira no infográfico ao lado os arqueiros de Hollywood que mais dispararam flechas em cada filme.)

Aparentemente, a protagonista de Jogos Vorazes foi quem mais cativou e atraiu novos arqueiros, principalmente o público feminino, na disputa com Mérida, Gavião Arqueiro e outros personagens hollywoodianos, como afirma outro proprietário de loja de arco, Randy Phillips, dono da Archery Headquarters. “Por 25 anos meus clientes eram majoritariamente homens. De repente um monte de mães vieram com suas crianças com um monte de dúvidas”, diz, ao site da ATA. O sucesso da personagem foi tanto que a USA Archery publicou em abril de 2012 uma carta aberta à Suzanne Collins – autora dos livros Jogos Vorazes, que deram origem aos filmes – por popularizar o esporte.

Importante ressaltar que Katniss inspira não apenas os neófitos. A arqueira comlombiana Sara López, atualmente a número 3 do mundo no composto, é uma fã declarada da guerreira do Distrito 12, e posta com frequência imagens relativas à saga Jogos Vorazes em sua página no Facebook.

Atleta da seleção americana Kathuna Lorig treinou a atriz Jennifer Lawrence para o papel de Katniss

Atleta da seleção americana Kathuna Lorig treinou a atriz Jennifer Lawrence para o papel de Katniss

Verdades e mentiras em Hollywood
A obstinada e contraventora princesa Mérida, protagonista da animação da Dinsey Valente, é o que Hollywood produziu de mais próximo a uma arqueira real. “Valente obviamente se beneficiou de uma assessoria técnica que fez o tiro com arco parecer excelente e autêntico nesse filme”, avalia o medalhista olímpico Butch Johnson, em entrevista ao site Hollywood.com.

Por falar em assessoria técnica, a atleta olímpica da seleção americana Kathuna Lorig é a treinadora de Jennifer Lawrence para o papel de Katniss Everdeen. Lorig falou no programa da TV americana Off Duty como foi treinar a atriz vencedora do Oscar em 2013. “Ela não tinha experiência, nunca tinha segurado um arco na vida e estava muito curiosa no primeiro dia. Ela tem uma ótima personalidade e foi fácil trabalhar com ela. Nós começamos a treinar com 15 flechas por dia, depois 20 flechas, fazendo com que ela tivesse uma boa postura e atirasse corretamente.”

No primeiro filme da saga, Katniss usou um arco da Lancaster, uma das maiores lojas do mundo para artigos de tiro com arco. Na continuação, ela passou a atirar com um arco desenvolvido especialmente pela Hoyt, fabricante de arcos americana. Quem também utilizou um Hoyt no cinema foi John Rambo, em Rambo II – A Missão, de 1985.

Apesar do treinamento com uma arqueira olímpica e arcos das maiores fabricantes do mundo real, o que rege Hollywood é a capacidade de surpreender e impressionar o público, e para isso é preciso fugir da realidade. Katniss realiza façanhas dignas de cinema, bem distante do que praticamos nos treinos de tiro com arco. Uma particularidade é que a guerreira coloca o dedo indicador sobre a flecha como uma espécie de rest, o que é desaconselhado na prática real do esporte. A opção desse tiro foi simplesmente criar um estilo próprio para a personagem e não deve ser copiada. Muito menos devemos tentar reproduzir um tiro num relâmpago para destruir o domo de uma arena.

Treinados por atletas reais, os arqueiros do cinema fazem proezas sobre-humanas

Em Avatar, de 2009, os na’vi, ao puxar a corda, usam o dedo indicador sob o nock point e o dedo médio sobre ele, ao contrário do que fazemos, arqueiros terrestres. O diretor James Camaron decidiu que os habitantes de Pandora têm uma biomecânica diferente da dos humanos, e que por isso ancoram a corda em uma posição estranha para nós.

Mais hollywoodiano ainda é a flecha com uma corda na ponta do Gavião Arqueiro em Os Vingadores ou a elfa Tauriel acertar uma outra flecha já disparada para salvar a pele do parceiro e amor frustrado Legolas Folha Verde em O Hobbit – A Desolação de Smaug.

Em breve nos cinemas
Os lojistas e federações podem se preparar para receber mais uma leva de novos atletas, se depender dos arqueiros de Hollywood. Estreia ainda neste ano a primeira parte de Jogos Vorazes – A Esperança. Em 2015 será lançada a parte dois e capítulo final da saga de Everdeen contra a ditadura da Capital. Também chega aos cinemas em 2014 o capítulo final da trilogia O Hobbit, adaptada do livro homônimo de J. R. R. Tolkien, com participação garantida dos elfos Legolas e Tauriel, e do anão arqueiro Kili.

Trailer dos filmes citados

Jogos Vorazes

 

Jogos Vorazes – Em Chamas

 

O Hobbit – Uma Jornada Inesperada

 

Os Vingadores

 

Valente

 

Leia também:

Conheça os principais tipos de arcos

Da caça ao esporte – a história milenar do arco e flecha

Da caça ao esporte – a história milenar do arco e flecha

archery history

Da caça ao esporte

Nenhum item esportivo é tão ligado à história da humanidade como o arco. O arco garantiu a sobrevivência de vários de nossos antepassados com um instrumento de caça eficaz quando o homem ainda habitava cavernas; definiu o rumo de batalhas sangrentas na Antiguidade e Idade Média; e esteve presente em uma das primeiras edições dos Jogos Olímpicos modernos, em 1900.

O arco também foi desenvolvido por todas as civilizações antigas, de forma independente uma da outra, o que gerou uma enorme variedade desse item ao redor do mundo, do assimétrico e eficiente arco huno ao compacto e preciso arco indígena brasileiro, chegando aos arcos modernos, utilizados na modalidade esportiva tiro com arco.

A ideia é bastante instintiva: tensionar um arco com uma corda para lançar uma flecha; essa é a essência do conjunto arco e flecha. Milhares de pessoas ao redor do mundo fazem uso desses equipamentos, seja como prática recreativa, esporte ou caça. E isso desde há muito tempo; não se sabe há quantos anos exatamente, mas não são menos que algumas dezenas de milhares de anos.

Linha do tempo do arco e flecha

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O instrumento de caça

A) Simulação da morte de Ötzi, o arqueiro mais antigo de que se tem registro. B) Flechas encontradas na aljava de Ötzi. C) Cadáver real de Ötzi, morto com uma flechada.

A) Simulação da morte de Ötzi, o arqueiro mais antigo de que se tem registro. B) Flechas encontradas na aljava de Ötzi. C) Cadáver real de Ötzi, morto com uma flechada.

Em um ano de inverno rigoroso, Ötzi teve de se afastar demais de sua civilização para voltar para casa com o jantar. Ele portava um arco de teixo inacabado, algumas unidades de flecha, um machado e proteção contra o frio, muito frio. Com o estômago clamando por comida, Ötzi tem dificuldade até para se manter em pé, mas ele renova as forças quando avista a presa: um alce a 90 metros de distância, rondando por trás das árvores. A inanição é tanta que o arqueiro por um momento acredita ser uma ilusão, mas logo ele tem a certeza de que está diante de sua refeição. Ele se aproxima alguns metros lenta e silenciosamente, controlando a respiração; em seguida fica imóvel, sem mais um passo à frente, temendo ser visto pela presa e que esta se afugente.

O arqueiro remove o seu arco a tiraloco. Saca uma flecha. Arma o projétil sem nenhum ruído. Tensiona a corda até onde pode. Calcula a distância do jantar e o percurso da flecha até atingi-lo. O disparo ocorre de forma descontrolada. Ötzi tomba ao chão. O caçador, que havia invadido terras de tribos inimigos em busca de alimentação fora atingido por uma flecha no ombro direito. Antes de cair, ele vê a sua flecha em um rumo incerto, a presa ouve o seu gemido de dor, ela corre. Ötzi imagina a sua família faminta e agoniza.

Ötzi é o mais antigo arqueiro de que se tem registro. O corpo bem conservado é datado de 5.200, foi localizado na região Ötzi – de onde os arqueólogos tiraram o seu nome de batismo -, na fronteira entre a Itália e Áustria. Ele foi descoberto em 1991. O estado bem conservado do corpo e das armas é uma ótima fonte de estudo sobre os arcos primitivos. Sabe-se que os guerreiros do grupo de Ötzi tinham arcos de teixo e flechas com pontas de pedra. O guerreiro deste conto – narrado com base nas evidências científicas – tinha 1,60 metro e um arco de 1,85 metro. Algo próximo das proporções utilizadas até hoje.

O Barranco de la Valltorta, na Espanha, tem pinturas rupestres do arco e flecha

O Barranco de la Valltorta, na Espanha, tem pinturas rupestres do arco e flecha

Antes de Ötzi, no entanto, houve outros arqueiros. E bem mais antigos. A origem do arco e da flecha se perde no tempo, de modo que não se sabe exatamente quando e onde ele foi desenvolvido pela primeira vez. Os arcos de nossos ancestrais, feitos de madeira, se conservam por milênios apenas em condições bastante específicas. Por conta disso, os arcos se deterioraram em sua maior parte ao logo do tempo, tornando mais difícil o seu estudo histórico.

Ainda assim, alguns exemplares sobreviveram; os mais antigos são datados de dezenas de milhares de anos, quase todos do norte da Europa. Já as pontas de flecha são bem mais resistente à passagem dos anos. Mesmo com a coleta dessas relíquias, é difícil tentar precisar a data de nascimento do arco e da flecha, já que nem todas as pontas eram feitas de madeira. A maior parte das pontas encontradas em florestas do Brasil e Papua Nova Guiné é esculpida em madeira por exemplo.

O que se tem certeza é que o arco e flecha foram fundamentais para a sobrevivência do homem em tempos antigos. Era a forma mais eficiente de caçar antílopes, por exemplo, sem ter que se aproximar demais da presa e correr o risco de afugentá-la. O Barranco de la Valltorta, na Espanha, tem um dos registros mais antigos desse tipo de caça. O uso do arco pelos caçadores é evidente na pintura.

Também há indícios de que tribos antigas usavam o arco para batalhas entre homens na região onde hoje é a Europa. Em Talhiem, na Alemanha, 34 esqueletos humanos foram encontrados com ferimentos de flecha em uma vala datada de 7.000 anos atrás.

O arco bem conservado mais antigo já encontrado é datado de 9.200 anos atrás. Trata-se do arco de Homegaard, encontrado na Alemanha. É uma peça bastante sofisticada, com pala achatada – o que lembra os modernos arcos recurvos. Do período Mesolítico – entre a última Era Glacial e o início da agricultura – foram encontrados pelo menos 30 arcos, predominantemente feitos da madeira olmo.

A) Arco de Holmegaard, na Dinamarca, de 9.200 anos, uma dos mais antigos já descobertos. B) Arco recurvo do Lago Ledro, da idade do Bronze

A) Arco de Holmegaard, na Dinamarca, de 9.200 anos, uma dos mais antigos já descobertos. B) Arco recurvo do Lago Ledro, na Itália, da idade do Bronze

Da Idade do Bronze são datados os arcos recurvos mais antigos, como o arco recurvo do Lago Ledro, na Itália, de 57 polegadas. Com o avanço da Idade do Bronze houve uma redução no uso do arco e as relíquias arqueológicas se tornaram mais escassas. Um dos fatores é o avanço da agricultura, o que reduziu a necessidade da caça.

O homem passou a cultivar sua própria comida, seja plantando o fruto ou mantendo o gado no quintal, que lhe se serviria de refeição. O arco, no entanto, foi reinventado, e passou a ter outra finalidade.

A arma de guerra

Batalha de Agincourt, arqueiros franceses e ingleses na linha de frente

Batalha de Agincourt, arqueiros franceses e ingleses na linha de frente

Até a Idade Média, nenhuma arma tinha um alcance tão longo e preciso quanto o arco e flecha. Isso deu a vantagem de guerreiros começassem a devastar a linha de frente inimiga a algumas centenas de metros de distância. Foi graças a guerreiros exímios no arco que 15 mil ingleses e galeses aos farrapos e com disenteria venceram cerca de 50 mil franceses na Batalha de Agincourt, durante a Guerra dos 100 anos, em 1415.

Em um campo de batalha lamacento, os ingleses conseguiram exterminar as montarias inimigas – as flechas não tiveram a mesma eficiência contra as armaduras dos soldados franceses. Sem os cavalos, os franceses lutaram em desvantagem em meio ao atoleiro e lavaram a pior. Os números não são precisos, mas estima-se a morte de 1.600 ingleses e 10.000 franceses.

Os ingleses, no entanto, não foram os primeiros a perceber o potencial do arco como uma arca de guerra. Em 3.500 antes da Era Comum (AEC), os egípcios criaram um arco de guerra letal e técnicas de batalhas assustadoras. Na tumba de Tutancâmon, descoberta em 1922, havia vários arcos. Historiadores modernos afirmam que o rei menino era um entusiasta do arco e flecha.

A tumba do faraó Tutancâmon, descoberta em 1992, e os arcos lá encontrados

A tumba do faraó Tutancâmon, descoberta em 1992, e os arcos lá encontrados

O rei Tutancâmon e Ankhesenamon, sua meia-irmã e mulher, iam com frequência ao delta do Rio Nilo – “uma região coberta por uma densa vegetação pantanosa e lar de grande quantidade de aves aquáticas”, como descreve o Guia do Estudante, editora Abril. Ele costumava caçar avestruzes a gazelas montado em bigas guiadas por vassalos, enquanto a rainha lhe preparava a próxima flecha. Mesmo quando praticava o tiro com arco como hobby, Tutancâmon usava arcos de guerra, maiores que ele próprio e cujas flechas atingiam distâncias de até 200 metros. Nas batalhas, os egípcios usavam suas bigas aceleradas enquanto arqueiros precisos eliminavam os inimigos.

Por volta de 1.800 a.E.C, os assírios revolucionaram os arcos, tornando-os mais compactos e leves, perfeito para uso montado a cavalo. Os romanos, tão conhecidos pela devoção à guerra, só dominariam o arco por volta de 100 E.C. Os seus inimigos bárbaros, especialmente os hunos, também eram especialistas na arqueria montada. Também foram exímios no uso do arco os hititas, citas, tártaros da Crimeia e mongóis. (Veja na figura abaixo o modelo de arco de cada povo.)

Povos que desenvolveram grandes perícias com o arco: A) Arco longo medieval de teixo; B) arco de nativos da América curvado; C) arco angulado do Oeste da Ásia; D) arco do povo cita; E) arco turco do século XVII; F) arco dos tártaros da Crimeia

Povos que desenvolveram grandes perícias com o arco: A) Arco longo medieval de teixo; B) arco de nativos da América curvado; C) arco angulado do Oeste da Ásia; D) arco do povo cita; E) arco turco do século XVII; F) arco dos tártaros da Crimeia

A Batalha de  Hastings, entre normandos e saxões em 1066, foi uma das grandes batalhas em que o arco foi decisivo a favor da tropa vencedora. Após uma saraivada sem eficiência, Guilherme II, duque da Normandia, ordena uma nova chuva de flechas, com os arqueiros dispostos mais próximos das frentes inimigas. O resultado, bem mais eficiente que a primeira saraivada, enfraquece a tropa inglesa. O rei inglês Haroldo II foi morto com uma flechada no olho esquerda. Sem o seu estrategista, o exército inglês lutou de forma desordenada, e sua barreira de escudos fracassou. A batalha marcou a conquista normanda e o fim da dinastia de reis anglo-saxões na Inglaterra.

No século XII a pólvora foi inventada pelos chineses, o que deu origem às armas de fogo. Com um poder de destruição bem maior, a pólvora substituiu gradativamente o arco como arma de guerra, este porém jamais se tornaria obsoleto.  O último registro do uso de arcos em batalha na Grã-Bretanha parece ter sido em outubro de 1642; durante a Guerra Civil Inglesa , uma milícia improvisada de arqueiros foi eficaz contra mosqueteiros sem armaduras.

O arco mostrou mais uma vez versatilidade e capacidade de se reinventar, tornando-se o artigo que utilizamos atualmente.

O esporte

(Vídeo de divulgação do tiro com arco da World Archery, em inglês; se preciso, ative a legenda do YouTube e escolha a opção de tradução para o português.)

O tiro com arco é um desafio. Requer estabilidade, concentração, precisão, foco e perseverança. Nada mais natural que se torna-se um esporte, atualmente praticado em quase todos os países do globo. O tiro com arco nasceu como esporte entre a aristocracia do Reino Unido do século XVII. Em 1688 foram criados os clubes de tiro “Finsbury Archers” e o “Kilwinning Paping”. Nas competições, os arqueiros tinham que acertar um papagaio de madeira.

1908: competição feminina de tiro com arco nas Olimpíadas

1908: competição feminina de tiro com arco nas Olimpíadas

No final do século XVIII, o arco e flecha chegaram à nobreza inglesa com a fundação da  Toxophilite Society, em Londres, que contava com o patrocínio do príncipe de Gales, George. Nessa época, o tiro com arco era usado também como exibição de status e paqueras, já que o esporte aceitava, desde o princípio, a participação de mulheres, mesmo num período em que elas eram vetadas da maioria dos esportes. “As mulheres jovens não só podiam competir nos concursos, mas manter e mostrar a sua sexualidade ao fazê-lo”, diz o artigo “History of Archery”, da Wikipédia, em inglês.

A partir de 1840, a arqueria começava a se tornar um esporte moderno, com a fundação da Grand National Society Archery, na cidade de Iorque, no Reino Unido. A sociedade padronizou a quantidade de tiro e distâncias no chamado Round Iorque – um antecessor do Round Fita – com distâncias de 60, 80 e 100 metros.

Coreanos são atualmente os maiores medalhistas olímpicos

Nos Estados Unidos, o tiro com arco nasceu como esporte em 1911, inicialmente com técnicas aprendidas a partir dos índios da tribo Ishi. Na Coreia, o país onde o tiro com arco é o esporte mais popular, a disseminação do esporte foi motivada pelo imperador Gonjog. E na China, houve um crescimento pelo interesse em arcos tradicionais nos anos 1900.

O esporte chegou ao Brasil por meio do  comissário de voo Adolpho Porta, na década de 1950. Adolpho conheceu o arco e flecha em Portugal, onde morou. “Na Feira Popular, evento anual em Lisboa, o Sr. Adolpho conheceu um hábil marceneiro chamado Arlindo, que tinha um estande de tiro com arco. Notando o interesse do Sr. Adolpho pelo esporte, convidou-o para ser sócio do Glória Atlético Clube, onde praticava. Em 1955, quando seu baseamento terminou, Rodolpho Porta regressou ao Rio de Janeiro trazendo alvos, arcos e flechas fabricados por Arlindo”, registra a CBTARCO.

A primeira prova no Brasil ocorreu em 5 de novembro de 1955, no Estande de Tiro General Dutra, na Quinta da Boa Vista. A Federação Mineira de Arco e Flecha (FMAF) é um dos mais antigos grupos organizados de prática do esporte, fundado em 1973. A FMAF, “desde 1997 consegue, ininterruptamente, manter pelo menos um atleta na seleção Brasileira de Tiro com Arco, afirmando assim a sua importância no cenário olímpico brasileiro”.

Em 1900 o tiro com arco teve sua primeira participação nas Olimpíadas, em Paris na França. Ele permaneceu nos Jogos Olímpicos até 1920 (exceto em 1912). Depois de um hiato por falta de padronização de competição nos países, o arco e flecha voltaram às competições olímpicas em 1972 e permanecem até hoje. Até 1984, havia apenas a competição individual; a partir de 1988 foi acrescentada a disputa por equipes.

Desde 1980 o Brasil tem representantes nas Olimpíadas, com os seguintes atletas: 1980 Moscou (Renato Emilio e Arcy Kemner); 1984 Los Angeles ( Renato Emilio e Arcy Kempner); 1988 Seoul ( Renato Emilio e Jorge Azevedo); 1992 Barcelona ( Renato Emilio e Victor Krieger); 2008 Pequim ( Gustavo Tranini); 2014 Londres (Daniel Xavier).

Oh Jin Hyek, medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, em 2012

Oh Jin Hyek, medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, em 2012

Atualmente há quatro possibilidades de medalhas de ouro nas Olimpíadas: individual masculino e feminino, e competição por equipe masculina e feminina. Os coreanos são os tradicionais “número um” desde o retorno do tiro com arco aos jogos Olímpicos. A equipe feminina coreana mantém a incrível façanha de nunca ter perdido uma medalha de ouro.

A partir dos anos 1920, os engenheiros profissionais se interessaram pelo tiro com arco, até então campo exclusivo dos especialistas artesanais tradicionais. Eles lideraram o desenvolvimento comercial de novas formas de arco, incluindo o recurvo e arco composto modernos.

No Ceará, a competição esportiva do tiro com arco é bastante nova. Em 2013 foi fundada a Federação Cearense de Tiro com Arco (FCETARCO), o que deu condição do estado ser representado pela primeira vez em uma competição oficial. No mesmo ano da fundação, o atleta Eugênio Franco participou do Campeonato Brasileiro Paralímpico, terminando na honrosa quarta colocação; os atletas André Teixeira e Paulo Henrique, também em 2013, participaram do 39º Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco, em Belo Horizonte-MG, respectivamente com o arco composto e recurvo.

Antes da fundação da FCETARCO, havia treinos recreativos mantidos por pequenos grupos em Fortaleza. A Associação Cearense de Tiro com Arco (Aceta), tem atividades desde 2004, sendo a base para a fundação da federação estadual.

FCETARCO, fundada em 2013, permitiu que os primeiros atletas representassem o Ceará em competições oficiais

FCETARCO, fundada em 2013, permitiu que os primeiros atletas representassem o Ceará em competições oficiais

Fontes: Federação Mineira de Arco e Flecha, Associação Cearense de Tiro com Arco, Guia Do Estudante, ThePaas.org, Wikipédia, EsportesMais.webnode.com.br.