Antes de começar a prática de tiro com arco é importante conhecer que tipo de arco você vai usar. Apesar dos arcos terem um princípio universal – tensionar a corda, mirar e atirar em um alvo – cada tipo de equipamento requer conhecimentos específicos de técnicas e postura para melhorar a qualidade do tiro.
Como o arco foi desenvolvido em várias culturas há milhares de anos, atualmente há uma enorme variedade deles. Aqui vamos comentar os tipos de arcos em quatro categorias: tradicional, arco-escola, recurvo olímpico e composto. Esses dois últimos são os arcos utilizados em competições oficiais da Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO) e Federação Internacional de Tiro com Arco (FITA).
Independente do tipo de arco com que se queira praticar, é importante começar com um equipamento de baixa potência para evitar lesões musculares e fraturas. O praticante também deve conhecer qual o seu olho diretor antes da aquisição de qualquer equipamento.
No link “onde adquirir” há dicas da melhor forma de comprar equipamentos evitando transtornos e prejuízos de uma eventual compra equivocada, além de links para lojas com material de qualidade. Caso encontre algum termo desconhecido ao longo do texto, acesse a WikiArchery para consultar a sua definição.
Arco tradicional
São arcos modernos que simulam equipamentos usados em guerras nas idades Antiga, Média e Moderna, entre 4.000 Antes da Era Comum (A.E.C) até o século XVII da Era Comum (E.C.). Há dezenas de variedades de arco tradicional, dependendo da referência do povo e época que o utilizou.
Um arco tradicional de referência mundial é o arco huno. Ele é feito de forma assimétrica, com a lâmina inferior mais curta para facilitar o movimento da espada durante a cavalgada, e a lâmina superior mais grossa para aumentar a potência do tiro.
Os húngaros desenvolveram um arco parecido com os dos hunos, mas simétrico, o que garantiu maior potência e maior alcance da arma; porém, sem a praticidade de usá-lo a cavalo. Já os coreanos aperfeiçoaram as camadas da lâmina com diferentes tipos de madeira. O resultado é um arco letal capaz de atirar flechas a até 600 metros de distância.
Em todos os casos, os arcos tradicionais se abstêm de tecnologias modernas que compensam falhas causadas pelo arco e pela interferência no tiro no momento do disparo, o que causa oscilações na corda. A flecha fica apoiada no dedo que empunha o arco, em vez de num com essa finalidade. Esse tipo de equipamento também tem menos pontos de referência, como mira ou cliker, o que torna o tiro mais instintivo.
O arqueiro deve desenvolver uma memória muscular bem mais acurada. Grosso modo, o arco instintivo é bem menos preciso que seus primos modernos e requer muito mais treinamento para obter uma mira e um agrupamento de flechas consistentes.
Os arcos tradicionais normalmente competem em categorias específicas de torneio, sem disputa direta com o arco recurvo olímpico e o composto. A Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO) e a Federação Internacional de Tiro com Arco (FITA) não incluem os tradicionais em suas modalidades de competições oficiais.
Arco-escola
Uma versão simplificada do arco recurvo – que veremos a seguir – desenvolvida especialmente para neófitos. O arco-escola é normalmente feito em madeira, tem as lâminas recurvadas em um S suave e tem a potência reduzida, normalmente até 20 libras. A potência baixa facilita que o arqueiro puxe a corda até o queixo, estabelecendo uma ancoragem firme já nos primeiros tiros.
Os arcos para iniciante têm o mesmo formato de um arco de competição e têm encaixes para os mesmos itens, como rest e mira, por exemplo. No entanto, esses itens desenvolvidos para o arco-escola costumam ser de plástico e de qualidade menor, assim como o preço. Nesse aspecto, o arco-escola pode até funcionar como um “seguro” evitando grandes prejuízos com compras erradas.
O arco-escola é ideal para que o arqueiro comece a treinar sua postura, ancoragem, respiração, mira e largada. Ele também aprimora o condicionamento físico para que, futuramente, o atleta venha a usar um equipamento de maior qualidade e potência.
Depois de certo tempo, a depender da desenvoltura de cada pessoa, o arqueiro perceberá que chegou ao limite da precisão do arco-escola e terá a necessidade de um equipamento melhor caso queira continuar o aprimoramento da prática. Permanecer com um arco-escola por muito tempo é recomendado apenas para práticas recreativas, e não para formação de atletas de alto rendimento.
Arco recurvo
O nome “recurvo” vem do formato das lâminas, que curvam para dentro do arco na extremidade recurvam para fora, lembrando o formato suava de um S. Esse desenho garante às lâminas um maior acúmulo de energia, aumentando a potência do tiro. Também chamados de arco recurvo olímpico, estes são da única categoria aceita nas Olimpíadas.
Em competições, o arco recurvo é equipado com um conjunto de estabilizadores, rest, botão de pressão, cliker, mira, damper e pesos; o arqueiro também utiliza uma dedeira e protetores de braço e de peito, além do uniforme obrigatório.
Os recurvos de qualidade são equipamentos aerodinâmicos, com regulagens firmes e fornecem tiros precisos. O riser é normalmente feito de metais e carbono, as palas são constituídas de madeira e fibras de carbono, e a corda é feita de fios com baixíssima elasticidade, para evitar a perda de energia no tiro.
O arco recurvo é uma evolução do arco tradicional. O rest e o nock point são referência para a flecha fique sempre instalada na mesma posição. O clicker dá a garantia de que o arqueiro faça sempre o mesmo cumprimento da puxada, dando uma trajetória semelhante da flecha a cada tiro. Já o botão de pressão e janela do arco reduzem o paradoxo do arqueiro, permitindo uma mira mais eficiente.
Por ser o único arco aceito nas Olimpíadas, atletas de alta performance de outras modalidade são comumente aliciados à prática com o recurvo. Foi o caso do arqueiro brasileiro Roberval dos Santos (também conhecido como Tico) e os americanos Brady Ellison e Reo Wilde. Tico e Reo Wilde não se adaptaram como esperavam e retornaram ao composto; Ellison se tornou um exímio arqueiro com o recurvo e foi medalha de prata nas Olimpíadas de Londres, em 2012, na modalidade por equipe junto com Jake Kaminski e Jacob Wukie.
Arco composto
Desenvolvido apenas em 1967, o arco composto é o mais moderno e tecnológico equipamento do arqueirismo. Ele tem uma série de ferramentas mecânicas que auxiliam no conforto e na precisão do tiro. A maior diferença entre um composto moderno e os arcos já citados é presença de um conjunto de cabos e polias nas extremidades da lâminas. Esse sistema cria o let off, efeito que reduz a força necessária para puxar a corda até o ponto de ancoragem.
O guarda de cabos evita maiores oscilações horizontais da corda, o que reduz a interferência da trajetória da flecha, permitindo um tiro mais preciso. O arco composto conta um sistema de mira também mais complexo do que os demais modelos de arco, com lentes instaladas na corda e numa haste na extremidade do arco, compondo alça e massa de mira. O conjunto de lente também garante uma aproximação do alvo em até oito vezes.
Outro item que auxilia numa maior acurácia do arco composto é o gatilho, um item mecânico ativado por pressão ou o toque de um botão para disparar a flecha. O gatilho substitui a largada tradicional, feita com os dedos, e causa bem menos oscilação na corda do arco. Os arcos compostos são geralmente os mais potentes e disparam flechas mais rapidamente, sofrendo menos influência do vento e outros fatores climáticos.
Os compostos são utilizados em competições Fita em todo o mundo em modalidades distintas das do recurvo. Os atletas do composto têm de acertar um alvo a 50 metros de distância. Para compensar uma distância menor (no recurvo, a distância é de 70 metros) com um arco mais preciso, os alvos são menores para as modalidades do composto.
A grande frustração dos atletas de arco composto é não poder competir nas Olimpíadas, já que o Comitê Olímpico Internacional adota provas de tiro com arco apenas para recurvo. A Fita já realizou várias investidas na tentativa de incluir modalidades de composto nas Olimpíadas, mas sempre frustradas; em parte pelo número já inchado de competições nos jogos, em parte pelo arco composto ter muitos recursos mecânicos.
A flecha
As flechas de competição para arcos recurvos e compostos são normalmente feitas de carbono ou alumínio ou a combinação desses dois elementos. A ponta pode ser feita de uma variedade de metais, sendo o mais recomendado – e mais caro! – o tungstênio, por ter uma melhor aerodinâmica.
Na parte traseira do tubo da flecha é instalada o nock, ou rabeira; esse item permite o encaixe da flecha na corda. Logo após o nock são fixadas as penas, ou vanes. Normalmente são coladas três penas, mas há formações de duas ou quatro penas; essas formações são mais exóticas e desaconselhadas para competições tradicionais do modelo Fita. Também em competições oficiais o atleta deve, obrigatoriamente, grafar suas iniciais no tubo. Isso evita confusão para identificar de quem é a flecha fixada no alvo caso dois ou mais atletas usem penas da mesma cor e tubos de modelos similares.
Assim como o arco, a flecha tem diversas especificidades e unidades de medida. O valor de cada unidade deve ser escolhido de acordo com o arco e com o atleta. Pode se dizer, sem nenhuma exagero, que cada flecha tem um conjunto único de medidas desenvolvido especialmente para o seu arqueiro.
Uma dessas medidas é o comprimento da flecha, medido entre o nock e o fim do tubo, descartando o tamanho da ponta. A envergadura do arqueiro determina o tamanho da flecha, da puxada e do arco adequado para ele. Uma flecha longa demais pode ocasionar em tiros instáveis, já uma flecha curta pode acarretar em acidentes graves e não deve ser utilizada. Vale destacar que flechas rachadas ou trincadas também devem ser descartadas para evitar acidentes.
Outra medida importante é o spine. Essa unidade quantifica a flexibilidade da flecha: quanto maior o spine, maior o movimento de contorção da flecha durante o voo até o alvo. O spine deve ser definido seguindo a proporção do tamanho da flecha, da potência e tipo do arco.
Leia também:
Da caça ao esporte – a história milenar do arco e flecha – – –
e o híbrido??